Projeto Trajetórias de Vida

O Projeto Trajetórias de Vida foi criado como parte do livro:


Os desafios da imigração alemã no Brasil: a presença alemã contada a partir da história da Sociedade Beneficente Alemã de São Paulo [1]


  

[1] Autora: Esther K. Beuth-Heyer

     Tradução para português: Eline de Assis Alves



© particular Judith Freuthal


Judith Bianka Freuthal

Nascimento: Bremen, 10.03.1922

 

Imigração para o Brasil: 1948

 

“Com dez anos de idade, no ginásio, eu estava entre os três melhores alunos. Lembro-me bem disso, pois esses alunos não precisavam pagar a mensalidade. Pouco antes de eu completar onze anos, Hitler tomou o poder. De repente tínhamos professores uniformizados. O professor da minha classe xingava os judeus constantemente. Por fim ele me disse:’Você não pode fazer nada a respeito, mas eu gostaria de lhe pedir que não participe mais dos devocionais matutinos’. Então eu ficava parada como uma pobre coitada à frente da porta quando os outros saíam novamente. Isso era muito embaraçoso. Meu rendimento escolar caiu claramente nesse período.

 

Meu pai nasceu em uma família judia em 1881 na então cidade alemã de Kattowitz na Alta Silésia e em 1904 fixou-se em Bremen. Em 1920 ele se casou com minha mãe, Helena, que era de Frankfurt am Main e havia crescido como protestante.

 

Minha mãe saiu da Igreja. Meu pai também não era religioso. A consequência disso foi que nenhuma religião foi registrada na minha certidão de nascimento. Nela não havia algo como ‘fé mosaica’, não: havia apenas um risco. Essa foi a minha grande sorte, esse risco salvou minha vida. Eu me lembro das crianças que, como eu, vinham de casamentos mistos. Elas sumiram imediatamente.

 

Também o meu nome, Judith Bianka, eu mandei mudar oficialmente. Eu não queria ser sempre chamada de JUDITH em voz alta e passei a me chamar a partir de então somente Bianka.

 

Nossa família era bastante conhecida em Bremen. Nós éramos donos de algumas casas e de alguns negócios. Meu pai era um socialdemocrata convicto e havia alugado um grande salão de eventos para os socialdemocratas.

 

Por razões políticas ele fugiu em 1933 através da Holanda, Bélgica e França para Espanha. Ele recebeu o aviso da parte de um nazista de que havia sido denunciado à Gestapo, pois antes da tomada do poder [de Hitler] ele havia preparado um panfleto político contra Röhm. [...] Depois que o líder da SA Röhm foi morto por Hitler em junho de 1934 por suposta tentativa de golpe de estado, meu pai pediu que minha mãe perguntasse na Gestapo se ele poderia retornar. Quando se esclareceu que não havia nada contra ele, ele retornou e depois de detalhado interrogatório permaneceu alguns anos sem ser importunado[1].

 

 

Depois de terminar a escola frequentei uma escola profissional. Eu não podia estudar em uma universidade. Esse foi um tempo difícil, pois eu era constantemente xingada de judia, não podia falar com meus colegas de escola e nem me sentar ao lado de alguém. Em casa, porém, eu nunca contei a respeito.

 

Depois da Noite dos Cristais meu pai foi tirado de casa pelos homens da SA, levado para uma escola e, depois de ser obrigado a andar durante horas pela cidade, foi entregue na penitenciária de Oslebshausen, de onde, depois de um ou dois dias, foi levado para o campo de concentração de Sachsenhausen, junto com outros judeus. Sob a condição de emigrar o quanto antes, ele foi libertado por volta de 13 de dezembro de 1938[2].

 

Em 05 de dezembro de 1939 meu pai deixou Bremen com um visto para o Paraguai. Mas em Santos um tio que havia deixado a Alemanha já antes da guerra foi buscá-lo no navio. Este tio o levou para seu sítio em Pirituba, um tanto fora de São Paulo. Rapidamente, porém, meu pai decidiu ir para cidade, afinal ele sempre tinha trabalhado em escritório e nunca no campo.

 

Eu passei todo o período de guerra em Bremen e sobrevivi. Sempre estive em casa, jamais escondida. Perto do fim da guerra, em novembro de 1944, os descendentes mestiços de judeus foram forçados a trabalhar nas fábricas consideradas importantes para guerra. Nós éramos sessenta mestiços, precisávamos trabalhar sozinhos, não podíamos comer juntos e não podíamos falar – sobretudo com os prisioneiros de guerra franceses, italianos e ucranianos. Especialmente os ucranianos eram tratados de forma terrível.

 

Trabalhei lá por cerca de nove meses, até que sofri um acidente. Na época fui transferida para diferentes lugares. Uma noite, em janeiro de 1945, parti com um amigo cristão para buscar uma de minhas malas que haviam ficado armazenadas. A caminho de Hamburgo fomos repentinamente parados por soldados alemães que estavam carregando um caminhão com tudo quanto era possível. Queriam que nós ajudássemos e nós, naturalmente, fomos obrigados fazê-lo.

 

Como já era tarde, meu amigo sugeriu que passássemos a noite no local. Eu, ao contrário, queria voltar para Bremen e o convenci a pegar imediatamente o caminho de volta. À beira de um pequeno povoado entre Bremen e Hamburgo, bem no meio da noite, nós batemos de frente com um transporte de tropas. Um médico precisou ser chamado, pois o meu amigo ficou gravemente ferido. Eu mesma estava arranhada da cabeça aos pés, meus joelhos doíam terrivelmente, porém, seriamente ferida eu não estava.

 

Meu amigo não pôde se locomover por muito tempo e por isso acabamos ficando alguns meses em uma pequena pensão não muito longe do local do acidente. Perto dali encontrava-se um castelo que havia sido usado pela SS durante a guerra. Quando o fim da guerra parecia estar próximo os soldados fugiram. Eles deixaram tudo para trás. Foi assim que meu amigo furtou bicicletas, que estavam paradas por lá, para que voltássemos para Bremen. Pouco antes de nos colocarmos a caminho nos deparamos com soldados aliados. Foi uma alegria enorme. Finalmente a guerra havia acabado! Como eu falava bem inglês pudemos até mesmo conversar com os soldados.

 

Meus conhecimentos de língua foram úteis também depois do fim da guerra. Trabalhei, entre outras coisas, como tradutora para os escoceses que não eram de maneira nenhuma pães-duros, mas muito gentis. Por fim, trabalhei para a Comunidade Israelita que no meio de agosto de 1945 foi fundada novamente. Na mesma casa encontravam-se também as organizações assistenciais HIAS[3] e Joint[4].

 

Nesse meio tempo recebemos as primeiras cartas de meu pai que sugeriu que eu fosse para o Brasil também. Se eu gostasse, minha mãe e minha irmã poriam ir depois. Foi difícil conseguir um visto, mas meu pai fez de tudo para conseguir o dinheiro para viagem de navio e o visto exigido.

 

Ele havia feito amizade com um líder católico que lhe explicou que eu conseguiria ir se me tornasse católica. Bremen era protestante, os católicos não eram muito queridos. Então pensei comigo mesma: católica eu não me torno de jeito nenhum.

 

Na primavera de 1948, num sábado, eu tinha acabado de chegar em casa quando repentinamente recebi um telegrama dizendo para eu sair do país na segunda-feira. Meu pai tinha juntado o dinheiro para a passagem e arranjado o visto. Eu estava feliz e ao mesmo tempo chocada. Como eu poderia sair do país tão rápido? Eu nunca havia tido sequer um passaporte. Imediatamente entrei em contato com a HIAS que eu conhecia bem. Dentro de um dia a organização assistencial fez o impossível se tornar possível e emitiu um passaporte provisório pra mim.

 

Minha mãe e minha irmã me acompanharam até o navio em Hamburgo, um navio de repatriação chamado Santarém. Eu estava feliz. É bem verdade que não estava mais diretamente sob ameaça, mas eu queria começar uma vida nova, queria apagar as lembranças da guerra e da perseguição.

 

Minha mãe havia me preparado para talvez precisar compartilhar a cabine no navio. Porém, ninguém me falou nada sobre 400 pessoas ficarem em um grande salão. Foi terrível, sobretudo a gritaria das crianças. A travessia durou quatro semanas. O navio parava constantemente. No dia 27 de maio de 1948 chegamos finalmente em Santos, onde fui recebida por meu pai.

 

Eu jamais havia imaginado que meu pai vivesse em condições tão miseráveis em São Paulo. Ele não podia custear mais do que um buraco de porão, pois tinha realmente gasto todo o dinheiro que tinha com a minha viagem. Se eu pudesse eu teria voltado imediatamente pra casa, mas isso, é claro, não era possível. Vivi 14 dias com meu pai, economizei tudo que podia e então passei a tomar conta da minha própria vida, procurei um emprego e um quarto e, como isso, comecei a aprender português.

 

No início da minha vida em São Paulo meus conhecimentos de inglês me beneficiaram mais uma vez. Eu trabalhei como secretária, primeiro só com a língua inglesa, mais tarde prestei meus serviços para empresas alemãs também. Trabalhei três ou quatro anos para Otto Wolff, na área de comércio exterior.

 

Mas antes disso, em 1948, eu conheci meu marido Luser Beller[5].

Ele nasceu em 1916 em Altenburg, na Turíngia, e vinha de uma família de judeus poloneses. Durante o Holocausto ele perdeu toda a sua família, com exceção de sua irmã Perel que, depois de ter imigrado para o Brasil entre 1932 e 1933, acabou indo para Israel nos anos de 1960. Depois de passar por várias estações entre 1939 e 1940 meu marido conseguiu chegar ao Uzbequistão onde passou o último ano da guerra e sobreviveu. Em 1947 ele imigrou para o Brasil[6].

 

Meu marido e eu nos casamos em 20 de novembro de 1949. No começo vivíamos de aluguel, até comprarmos uma pequena casa na Rua Ana Cintra. Nós tivemos duas filhas, em 1952 em 1958. No ano do nascimento de nossa primeira filha, meu pai, que de fato jamais conseguiu se estabelecer no Brasil, voltou para a Alemanha.

 

Meu marido trabalhava como gráfico e eu retomei minhas atividades profissionais depois que as meninas já tinham completado cinco anos de idade.

 

Mais tarde compramos um apartamento na Alameda Tietê. Eu gostava muito de viver lá, passeava muito pelas belas ruas e ia com frequência fazer compras no tradicional comércio Casa Santa Luzia.

 

Em 2004 eu sofri um AVC que foi descoberto rapidamente, de modo que a leve paralisia do rosto voltou logo ao normal. Significativamente mais grave foi uma outra sequela: eu havia perdido o português. Minha filha sempre me chamava a atenção para o fato de eu só falar em alemão com os médicos, língua que eles, naturalmente, não compreendiam. Eu precisei ter aulas de língua novamente, aos 82 anos de idade. Depois de seis meses recuperei meus conhecimentos linguísticos, embora no geral eu já não fale mais tão bem o português. Em família nós sempre falamos somente em alemão. Nossas duas filhas viveram, uma de cada vez, um ano na Alemanha e dominam a língua fluentemente, tanto na escrita quanto na fala.

 

Depois do meu AVC a vida em nosso próprio apartamento se tornou mais incômoda. Uma de minhas filhas conhecia alguém que visitava a tia regularmente no Lar Recanto Feliz. Ela nos contou a respeito e nós fomos todos juntos visitar o local. Pouco depois, meu marido e eu nos mudamos para lá. Porém, especialmente o meu marido teve dificuldades para se adaptar. Assim, depois de mais ou menos seis meses, voltamos para o nosso apartamento, o qual ainda não tínhamos vendido na época.

 

Quando minhas filhas, depois da morte do pai em setembro de 2007, finalmente expressaram sua preocupação com o fato de eu não poder viver em nosso apartamento sozinha, fui, ainda no mesmo ano, novamente para o Lar Recanto Feliz.

 

Aqui me sinto segura e protegida. A organização na SBA é muito boa. Muitas atividades são oferecidas o que faz com que o tempo passe depressa. Bingo e baile de idosos são atividades das quais eu participo regularmente. Durante um tempo participei também de um curso de Reiki. Frequento o treino de memória desde o começo. O treino em si e as lições de casa, que eu sempre faço, são bem fáceis pra mim e me divertem. Eu também leio regularmente, de preferência em alemão. Em segundo lugar estão as leituras em língua inglesa, depois vem o português. Poder falar alemão aqui no Lar Recanto Feliz é um grande ponto positivo. Também são positivos os contatos que surgem a partir das atividades em comum.” [7]

 


[1] Veja: Lebensgeschichten – Schicksale Bremer Christen jüdischer Abstammung nach 1933, publicado por um grupo de trabalho, Hospitium Ecclesiae, Volume 23, 2006

[2] Veja: Lebensgeschichten – Schicksale Bremer Christen jüdischer Abstammung nach 1933, publicado por um grupo de trabalho, Hospitium Ecclesiae, Volume 23, 2006

[3] HIAS: Hebrew Immigrant Aid Society. A HIAS foi fundada em 1881. De 1945 a 1951 a organização para refugiados ajudou 167.450 pessoas. 79.675 delas imigraram para os Estados Unidos, 24.049 para Comunidade Britânica, 24.806 para América Latina e 38.920 para Israel ou outros países. (Veja também: www.hias.org)

[4] Joint Distribution Committee (JDC) – Designação completa: American Jewish Joint Distribution Committee, forma abreviada: Joint – é uma organização assistencial de judeus norte-americanos em favor de seguidores da fé judaica, ativa desde 1914, sobretudo na Europa. (Veja também: www.jdc.org)

[5] No Brasil o nome foi mudado para Lazaro Belar, mas é normalmente chamado de Vicu.

[6] Ver: Repkewitz, Christian. Schicksal der jüdischen Familie Beller ergründet (http://www.christian-repkewitz.de)

[7] Entrevista realizada em 05.07.2013 (por Esther K. Beuth-Heyer


© particular Leda Cruz Gatto


Leda Cruz Gatto

Nascimento: Santos, 10.08.1929

 

“Minha família é de Santos. A avó por parte de mãe emigrou da Noruega e o avô por parte de pai era português. Porém, suas origens nunca foram um tema relevante.

 

A música tinha um papel fundamental na família. Meu pai, Luiz Gomes Cruz, era compositor, dirigente e professor de música. Nós trabalhamos muito com música. Eu mesma estudei piano no conservatório e aprendi violão para tocar as músicas do meu pai.

 

Profissionalmente, entretanto, tomei outro rumo. Depois que terminei a escola trabalhei, a partir dos 17 anos, primeiro na Prudência Capitalização e depois como secretária em uma organização que antecedeu à seguradora social brasileira INSS[1]. Naquela época o Serviço ainda era subdividido em diferentes áreas. Em Santos havia repartições próprias para o porto e o setor de transporte. Foi lá que eu trabalhei.

 

No ano de 1954 acabei participando de um processo seletivo no Banco do Brasil, o que resultou em minha mudança para o Banco. Ali também conheci, depois de alguns anos, o meu marido que trabalhava lá como eu. Nós nos casamos em 1963. Ao todo trabalhei doze anos, até 1966, no Banco do Brasil.

 

A tradição musical e artística foi levada adiante por um dos meus filhos que vive e trabalha como ator em São Paulo. Meu outro filho acabou indo para São José dos Campos.

 

Antigamente vivíamos muito felizes em uma casa grande em Santos. Depois que meu marido morreu em 1998, meus filhos sugeriram que nos mudássemos para um apartamento, pois uma casa grande acaba dando muito trabalho, mesmo com empregados. Porém, a casa era a minha vida, lá eu estava em casa. Criamos nossos filhos lá. Uma mudança para um apartamento não era para mim algo a ser considerado. Expliquei aos meus filhos, portanto, que eu ficaria aqui, nesta casa, até o fim da minha vida e eles aceitaram.

 

Certo dia li um relato interessante sobre o Lar Recanto Feliz. Pode ser que tenha havido também uma reportagem na tv, disso eu já não me lembro com exatidão, pois naquele momento a instituição não tinha grande importância para mim, afinal eu queria permanecer na minha casa. Somente anos depois devo ter me lembrado desse relato novamente.

 

O ser humano passa por diferentes fases na vida. A última fase, antes que o Lar Recanto Feliz voltasse ao meu campo de visão, foi muito difícil, pois tive que lutar com restrições. Minha artrite reumatoide, que se manifestava especialmente nas mãos, dificultava muito minha vida.

 

Naquela época eu tinha uma empregada que esteve comigo durante três anos. Quando ela foi embora, levou com ela todas as minhas joias. O que me feriu não foi a perda material, pois não dou grande valor a essas coisas. Importava muito mais ter perdido objetos de recordação de grande valor emocional. A isso se somava o choque de que uma pessoa que viveu comigo sob o meu teto, que foi tratada como um membro da família, tenha sido capaz de fazer uma coisa dessas.

 

Essa foi uma grande decepção que me fez refletir sobre como eu conseguiria no futuro admitir pessoas em minha casa e confiar nelas; pessoas de cuja ajuda, por motivos de saúde, eu dependia. É verdade que quando alguém se candidata recebemos documentos dessa pessoa, mas eles podem ser todos falsos. Minha confiança tinha sido quebrada.

 

Eu sabia que não poderia mais viver sozinha, já que meus filhos levam suas vidas em São Paulo e São José dos Campos, e comecei a refletir. Neste momento me veio novamente à memória a reportagem sobre o Lar Recanto Feliz. Como eu não me lembrava de detalhes, pedi ao meu filho que desse uma olhada na internet, entrasse em contato com a organização e agendasse uma visita. Eu queria, a todo custo, ver o Lar Recanto Feliz e isso foi possível depois de pouco tempo.

 

A iniciativa partiu exclusivamente de mim, pois eu nunca quis que meus filhos se sentissem responsáveis por mim ou até mesmo culpados. Jamais deveria chegar o momento em que eu experimentaria o sentimento de rejeição, mesmo que ele fosse apenas subjetivo.

 

Quando estive com meu filho no local soube que gostaria de viver exatamente aqui. A bela instalação, o verde abundante, as diversas possibilidades de moradia dentro do Lar Recanto Feliz e a boa atmosfera me convenceram imediatamente.

 

Eu estava disposta a passar pelo tempo de espera com prazer. Quando, depois de quatro meses, eu finalmente recebi a notícia de que uma vaga havia sido liberada reparti tudo entre meus filhos ou vendi – com exceção de alguns móveis e coisas pessoais – e me mudei da minha casa. Até minha mudança para o Lar Recanto Feliz eu fiquei em uma clínica em Santos, perto de minha casa. Hoje eu vivo aqui, tenho minha caderneta de poupança e alguns objetos de recordação que me permitem viver bem aqui. Eu não preciso mais me preocupar com a venda de minha propriedade, com seu aluguel ou com inquilinos inadimplentes. Isso pode ser opressivo e trazer consigo pensamentos sombrios. Para mim não há razão para estar triste. Nada mais que me sobrecarregue. Agora eu sou livre!

 

Antes de vir para cá eu não conhecia ninguém que vivia aqui. Mas isso também não era importante. Tudo, inclusive o sentir-se bem, começa em nós mesmos. Eu sou uma pessoa muito positiva. Se eu me sinto bem, então tudo vai ficar bem. Se alguma coisa não está bem devemos procurar em nós mesmos e não em outras pessoas ou mesmo responsabilizar as circunstâncias.

 

Eu valorizo a grande variedade de ofertas aqui, as quais eu aproveito intensamente. As muitas atividades culturais me fazem especialmente feliz, sejam elas o cantar em coro ou os espetáculos musicais dentro ou fora do Lar Recanto Feliz. Música é fundamental para mim, não existe nada mais belo. Se há um coro aqui, o que é frequentemente o caso, eu canto junto, dependendo da ocasião, alto ou baixo. Eu tenho um vasto repertório. Quando meu filho participou da apresentação “Um violinista no telhado”[2] no ano passado, nós fomos em grupo para lá. Uma experiência realmente bela.

 

Eu sou muito feliz aqui, desfruto do calor humano, que aqui é bem grande, e sei com toda certeza que fiz a escolha certa para minha vida. Perfeição é um estado inalcançável, porém o Lar Recanto Feliz distante disso apenas por milímetros.

 

Nesse meio tempo até mesmo uma amiga minha veio morar aqui. Minhas descrições parecem tê-la impressionado tanto que ela nem sequer viu o Lar Recanto Felizantes de se mudar. Nas minhas descrições sempre chamei sua atenção para o fato de que ela é uma pessoa completamente diferente de mim. Ela, porém, não deu importância a isso, simplesmente se mudou e, como eu, é muito feliz aqui.”[3]



[1] INSS: Instituto Nacional do Seguro Social

[2] Fiddler on the Roof” é um musical baseado no romance iídiche “Tewje, der Milchmann” de Scholem Alejchem. O título do original inglês deriva do quadro de Marc Chagalls “Fiddler on the Roof”. Em São Paulo o musical foi exibido com o título “Um Violinista no Telhado” de 16 de março a 15 de julho de 2012. Na Alemanha ele é apresentado com o título “Anatevka”. (diversas fontes).

[3] Entrevista realizada em 05.07.2013 (por Esther K. Beuth-Heyer)


© particular Christine Peters


Christine Peters

Nascimento: Varsóvia, 09.06.1935

 

Imigração para o Brasil: 1956

 

“A família do meu pai é oriunda da Rússia. Minha avó por parte de mãe nasceu na Silésia, meu avô era o único polonês na minha família. Os outros parentes eram formados por tchecos e holandeses, para citar duas nacionalidades como exemplos. Alguns professavam a fé russo-ortodoxa, outros eram católicos e outros ainda protestantes.

 

Inicialmente meu pai queria ser sacerdote russo-ortodoxo e, mais tarde, astrônomo, até que um dia, sem mais nem menos, meu avô decidiu que seu filho deveria estudar engenharia mecânica na ETH[1].

 

Depois dos estudos meu pai voltou para casa e conheceu minha mãe. Meus pais se casaram, mas se divorciaram rapidamente. Desde então meu pai vive no exterior. Minha mãe casou-se de novo pouco tempo depois.

 

Quanto a mim, estudei decoração mais tarde. Lembro-me muito bem de um trabalho para o Congresso de Jovens Comunistas na Politécnica Warszawska, a Universidade Técnica da Varsóvia, pelo qual eu fui contemplada com o primeiro prêmio. No Pałac Kultury i Nauki, o Palácio da Cultura, o ministro entregou-me pessoalmente a condecoração.

 

Depois desse período de trabalho intenso, fiquei em casa na Varsóvia. Por um lado eu sentia ainda o alto nível de energia, por outro um certo vazio, um tédio até. De repente me veio a ideia de ligar para o Brasil. Eu sabia que meu pai estava em algum lugar em São Paulo, porém, eu não tinha contato com ele desde 1939, absolutamente nenhum contato. Eu quase não o conhecia.

 

Eu pedi à telefonista – isso tudo aconteceu no ano de 1956 – que me colocasse em contato com meu pai. Fora seu nome e a cidade de São Paulo como local de residência, não pude dar nenhuma informação relevante. A telefonista deveria simplesmente procurar na lista telefônica, foi a minha sugestão. Em seguida voltei-me para o meu aquário, olhei meus peixes e sonhei.

 

Eu já nem pensava mais no telefonema quando de repente me assustei com um toque. Atendi e falei de fato com meu pai, depois de 17 anos. Foi uma grande alegria. Meu pai me contou que estava casado novamente. Sua esposa era 20 anos mais nova que ele, porém não tinham filhos, prosseguiu ele e perguntou por mim. Contei-lhe então sobre o trabalho que havia acabado de concluir e a ligação espontânea para a central telefônica.

 

Em duas semanas ele estaria em Viena, explicou meu pai. Eu precisava ir para lá, ele queria me ver a todo custo. Eu expliquei, de forma pragmática, que se levava dois anos até se obter um visto para Rússia. Obter um visto para o oeste seria, certamente, muito mais complicado e, sobretudo, demorado. Ele, porém, insistiu e disse que eu deveria fazer de tudo para conseguir.

 

Eu ainda estava cheia de energia devido a esse trabalho que havia acabado de concluir, embora estivesse por um momento um pouco desorientada. De repende me veio, porém, a brilhante ideia: o ministro que havia me entregado o prêmio poderia certamente me ajudar.

 

Assim, eu passei por lá, lembrei-o da entrega do prêmio e expliquei que meu pai iria para Viena e precisaria ser operado lá. Ele estava realmente doente – doente dos rins – a operação, no entanto, foi uma mentira de emergência. Eu pedi ao ministro que me concedesse um visto urgentemente e duas semanas depois eu estava de fato na Áustria.

 

Não muito depois que eu ter chegado a Viena, precisei pensar na questão do meu retorno. Quanto a isso, meu pai disse enérgico que eu não poderia ser tão louca de voltar para Polônia. Eu deveria ficar com ele e continuar meus estudos em Viena.

 

Naquele tempo minha mãe já estava casada pela quinta vez, meu irmão, que é 20 anos mais novo que eu, tinha na época apenas um ano de idade.

 

Espontaneamente decidi ficar em Viena. Meu pai conhecia o presidente austríaco que se chamava Körner[2], disso eu ainda me lembro. Ele era um amigo do qual meu pai havia comprado um relógio Atmos[3] na época. Nós ficamos lá durante meio ano e eu obtive a cidadania austríaca. Em seguida, viajamos um pouco e ainda no mesmo ano, em 1956, viemos para o Brasil.

 

São Paulo me impressionou. Eu estava fascinada com todas as impressões novas e exóticas. Ao mesmo tempo me irritavam algumas coisas.

 

Na Academia de Arte, que na época localizava-se na Pinacoteca, dominava uma prática que me chocou. O professor de Escultura, por exemplo, eu vi apenas uma vez durante todo o tempo que estudei lá. Outros professores apareciam uma vez para aula e depois não mais. Professores e alunos vestiam-se de forma muito desleixada. Além disso, os alunos, especialmente, pareciam incrivelmente débeis e pálidos. Eles eram completamente ensimesmados.

 

No comunismo eu havia tido uma experiência completamente diferente. Lá havia cuidado com tudo, as coisas eram regradas até nos mínimos detalhes. É verdade que as pessoas tinham menos dinheiro, mas em compensação tinham sonhos bem maiores em cuja realização elas trabalhavam duro. Tudo era mais expressivo, havia muitos cartazes.

 

Quando deixei a Polônia eu não sabia exatamente o que queria. Eu tinha o desejo de olhar por trás da cortina de ferro sem saber exatamente o que me esperava lá. Aquilo que eu presenciei na Academia de Artes eu não queria mais. Então, depois de um ano, fui até meu pai e lhe expliquei que não queria mais estudar lá. Meu pai não deu importância à minha decisão que ele via como propaganda comunista. No entanto, quando ele percebeu que eu não queria, de jeito nenhum, continuar frequentando essa escola que aos meus olhos era ruim, ele cedeu.

 

Eu acabei indo para Genebra, para a Academia de Artes de lá. Na pensão em que eu morava vivia também um parente de Hailê Selassiê[4], ele se chamava Mochrata Fessa e era uma pessoa muito impressionante. Fiquei amiga de suas sobrinhas imediatamente. Além disso, viviam também amigos do meu pai em Genebra com os quais eu mantinha algum contato.

 

De Genebra voltei por pouco tempo para o Brasil, até que fui para Inglaterra para lá estudar inglês.

 

Quando voltei novamente para São Paulo conheci Manfred, meu atual marido, em uma grande festa de passagem de ano, de 1958 para 1959. Em 1963 nos casamos.

 

Meu marido, assim como sua mãe, nasceu no Brasil. O pai dela, que provavelmente era de Estetino, migrou para o Brasil no século XIX e foi, até 1932, proprietário da Chácara Flora que era um horto na época[5]. A família da mãe da minha sogra vinha, se me lembro bem, de Schleswig-Holstein.

 

O pai do meu marido, Wilhelm Peters, migrou de Hamburgo para Manaus e lá, no auge do boom da borracha, fez uma fortuna[6]. Mais tarde ele veio para São Paulo onde fundou, finalmente, a Lustres Pelotas, uma empresa especializada em iluminação. Em 1952 surgiu a Peterco, um grupo empresarial formado por cinco firmas que realizou importantes projetos de iluminação.

 

No início dos anos de 1970, meu marido Manfred e seu irmão Klaus venderam tudo. Klaus casou-se novamente e adquiriu a Praia do Forte[7]. Meu marido assumiu, entre outras coisas, fazendas no Paraguai.

 

Antes do nascimento do nosso filho que, como meu marido, chama-se Manfred, mas é chamado de Maneco, fizemos uma viagem pelo mundo que durou seis meses. Também mais tarde viajamos muito, mas São Paulo permaneceu sempre o centro de nossas vidas.

 

Meu marido não precisava de muito para ser feliz. Ele gostava de animais, era muito ligado à água, gostava de mergulhar, pescava e até ganhou um campeonato em mergulho subaquático, foi Campeão de Pesca Submarina.

 

A mãe dele morava perto da represa[8], não muito longe do Clube de Campo de São Paulo. Lá também se praticava muito esporte aquático. Frequentemente recebíamos visita de amigos e todos andavam de barco ou esqui aquático.

 

Nossos amigos vinham de várias partes do mundo, não só da Alemanha e da Polônia. Integração sempre foi, pessoalmente, muito importante para mim, pois eu não queria ser limitada. Eu podia perceber que especialmente os imigrantes mais velhos, dentre os quais meu pai, estavam mentalmente presos a velhas convenções e viviam em suas lembranças. Para mim isso sempre foi muito estreito e também muito desinteressante. Mesmo como polonesa eu podia ver que diferentes influências – russa, alemã, sueca – podiam ser muito enriquecedoras.

 

Passávamos também muito tempo em São Sebastião, um lugar selvagem e belo. Frequentemente curtíamos a luminosidade do mar, observávamos os pescadores, como eles apanhavam suas redes e comiam ostras diretamente da pedra.

 

No ano de 2006, em Moscou, em uma de nossas muitas viagens, os primeiros sintomas da doença do meu marido apareceram. Desde então passei a me ocupar com o tema da moradia na terceira idade. Eu conhecia as Senior Houses do renomado arquiteto Brad Perkins[9] que esteve envolvido no projeto do meu cunhado na Praia do Forte. Muitos americanos – assim fui informada por ele – aos 60 ou 65 anos, quando se aposentavam, mudavam-se para essas casas altamente confortáveis, completamente adaptadas às necessidades da terceira idade.

 

Eu falei com nosso médico, Dr. Jozef Fehér[10], sobre o trabalho de Perkins, pois o Dr. Fehér pensava em construir algo semelhante. Também com Wolfgang Sauer[11], do qual éramos igualmente amigos, troquei algumas ideias sobre o assunto.

 

Quanto mais intensamente eu me ocupava com esse tema, mais horrível ele me parecia também, pois eu conhecia um outro conceito dos países eslavos. Lá os avós passavam o fim de suas vidas ao lado do forno, na casa que haviam construído e dado aos seus filhos. Minha avó tinha uma forma leve da doença de Parkinson. Ela sempre usava brincos de pérolas pretos que estalavam perto do forno.

 

Supostamente todos querem continuar a vivenciar a vida dos filhos e dos netos, especialmente a convivência entre gerações, no entanto, isso não é algo que se dê de forma descomplicada. Há irritação mútua, não há espaço para as lamúrias do idoso que se torna um estorvo e logo se sente rejeitado.

 

Meu marido pôde lidar com os sintomas de sua doença por um longo período. Quando isso não foi mais possível, comecei a cuidar dele em casa. Porém, com o tempo, isso foi se tornando cada vez mais difícil, até porque não era fácil encontrar pessoal apto que estivesse disposto a cuidar do meu marido permanentemente. A isso somava-se o problema das consultas ao médico. Como eu poderia visitar um dentista com o meu marido naquele estado de saúde – especialmente em uma cidade com São Paulo.

 

Por volta de 2009/2010 a doença de meu marido acabou nos levando ao Lar Recanto Feliz que nós conhecemos através de Gunter Reimann, um bom amigo de meu marido, e sua irmã Gisela que trabalhava aqui como voluntária.

 

Aqui a visita ao médico não é um problema, pois a médica especialista trata do meu marido no quarto dele. Finalmente tenho assistência confiável e altamente competente: médicos, enfermeiros devidamente treinados, terapeutas que estão à disposição dia e noite e em caso de emergência também chamam uma ambulância. Só precisa tocar uma campanhia. A equipe médica – dentro da qual um médico trouxe sua própria mãe para cá – é realmente magnífica. Também fora da área médica e da enfermagem cuida-se de tudo aqui, desde a lavanderia até o cabelereiro.

 

No começo eu visitava meu marido todos os dias, preparava pratos que ele gostava muito e trazia. Depois de um tempo, entretanto, decidi pegar um quarto para mim também, até porque eu mesma comecei a ter um problema de saúde.

 

Os valores mudaram com a doença do meu marido. Aquilo que me realizava antes, como colecionar botões japoneses, por exemplo, hoje não me interessa mais, pois eu não posso compartilhar nada disso com meu marido. Antigamente nós cozinhávamos muito, convidávamos amigos, viajávamos. Hoje a questão da saúde deslocou-se para o primeiro plano. Aceitar essas mudanças não foi fácil para mim no início, assim como aceitar o fato de que o Lar Recanto Feliz será a nossa última parada.

 

Mas eu tenho muito o que fazer. Eu sempre olho por meu marido, cuja doença continua a avançar. A cada dois dias vou para nossa casa da qual uma funcionária toma conta. Uma vez por semana preparo um almoço para os meus netos. Sempre faço a mesa com minhas belas porcelanas, principalmente para manter vivos a tradição e os velhos tempos. De vez em quando também recebo a visita de minhas amigas.

 

Já faz tempo que cheguei ao Lar Recanto Feliz, a esse maravilhoso oásis verde com atmosfera internacional. Mais de 20 nacionalidades diferentes vivem aqui. Faço minhas refeições com uma senhora de origem inglesa nascida em Alexandria, uma italiana e com brasileiras. Pelo fato de todos aqui terem passado uma boa parte de suas vidas no Brasil, temos esse jeito – tipicamente brasileiro – alegre, leve, descomplicado e descontraído de lidar uns com os outros.

 

Aqui no Lar Recanto Feliz, a visão geral e outras qualidades tipicamente alemãs encontram-se em uma atmosfera internacional e a nossa vida é um pouco como era antes.” [12]



[1] ETH Zürich é a forma abreviada de Eidgenössische Technische Hochschule Zürich – o Instituto Federal de Tecnologia de Zurique.

[2] Dr. h.c. Theodor Körner (Uj Szöny em Komorn/Komárom (Ungria), 24.04.1873 –Viena, 04.01.1957): Presidente Federal da República da Áustria de 21.06.1951 a 04.01.1957.

[3] Atmos é um modelo de relógio de mesa fabricado pela Jaeger-LeCoultre.

[4] O filho de um governador etíope foi, sob o nome de Haile Selassie I, o último imperador da Etiópia, reinando de 1930 a 1936, assim como de 1941 a 1974.

[5] A Chácara Flora é hoje um condomínio exclusivo localizado na Zona Sul de São Paulo. Foi construído em sua forma atual e 1924. O terreno estende-se por mais de 1.000.000 m² e distingue-se por uma exuberante vegetação de mata atlântica e árvores centenárias que hospedam diversas espécies de animais como pica-paus, pequenos macacos e o sarigüi marsupial. Além disso, dois lagos estão localizados no condomínio. Fonte: http://chacaraflora.com/chacara_flora. php

[6] Veja também: “À sombra do coqueiral - Como o ex-industrial paulista Klaus Peters realizou seu sonho: mudar de vida para ser hoteleiro numa praia paradisíaca da Bahia”. In: Exame, 10.03.1999

[7] Conferir: „À sombra do coqueiral - Como o ex-industrial paulista Klaus Peters realizou seu sonho: mudar de vida para ser hoteleiro numa praia paradisíaca da Bahia”. In: Exame, 10.03.1999

[8] Represa Guarapiranga

[9] Bradford Perkins – Perkins Eastmann (Veja: http://www.perkinseastman.com)

[10] Dr. Jozef Fehér foi presidente do Hospital Israelita Albert Einstein de 1979 a 1995. (http://www.einstein.br)

[11] Wolfgang Sauer foi presidente da Volkswagen do Brasil de 1973 a 1989. (http://www.brasilengenharia.com)

[12] Entrevista realizada em 05.07.2013 (por Esther K. Beuth-Heyer)


© particular Helga Siewert

Helga Siewert Anger

Nascimento: Caminho do Meio (registrada em Ibirama), Santa Catarina, 24.09.1929

 

Família: 5 irmãos

 

“Fui registrada em Ibirama, mas, na verdade, nasci em Caminho do Meio. Meus pais nasceram já no Brasil. Os pais de minha mãe vieram da Polônia, posso me lembrar bem deles. Ainda hoje vejo minha avó em frente de casa descascando batatas. Sobre os pais do meu pai eu não sei nada.

 

Meus pais trabalhavam na colônia. Eu ia para escola. Só que os professores nunca ficavam, pois estávamos em uma área muito afastada. Mas de tempos em tempos tinha um lá. Aprendi ler e escrever, mas escrever é difícil pra mim. Eu troco muito coisa. Eu gostava mais de ajudar na agricultura, plantava e cortava o mato. Às vezes, com duas pessoas, também serrávamos troncos bem grandes.

 

Com 13 anos perdi minha mãe. Meu irmão mais novo tinha na época só três anos de idade e meu pai bebia. Nós tínhamos gado e também leite e requeijão. Eu precisei então trabalhar na colônia, para que pudéssemos ter arroz.

 

Em algum momento não deu mais. Minha tia, a irmã da minha mãe, foi nos buscar. Toda a família foi dividida: os dois pequenos e o irmão mais velho ficaram com a tia. Eu fui trabalhar em casa de família. Meu outro irmão foi para uma família que não tinha filhos e minha irmã mais nova ficou por pouco tempo com uma segunda tia minha que, no entanto, a mandou de volta quando a confirmação legal estava para sair. Minha irmã viveu então com uma outra família, até que se casou e veio para São Paulo. Nós sempre mantivemos em contato, até a sua morte.

 

Primeiro fui empregada de uma família em Blumenau. Em seguida trabalhei para a filha da minha primeira família em Joinville e criei seus dois filhos. O menino era muito apegado a mim.

 

De 1974 a 1977 estive com uma família em São Caetano, perto de São Paulo. Entre 1977 e 1984 trabalhei pela primeira vez para uma família que vivia diretamente em São Paulo. Depois disso, estive por pouco tempo com uma outra família, até que me mudei por dois meses para a casa da minha irmã, que tinha acabado de se casar.

 

Eu não queria ficar sem fazer nada na casa da minha irmã, queria trabalhar novamente. Um dia eu estava na feira onde eu ainda hoje faço compras. Lá encontrei uma conhecida. O irmão dela, que era motorista[1] na SBA, acabou sugerindo que eu me apresentasse lá. Minha irmã me acompanhou nessa entrevista.

 

Em 2 de maio de 1984 comecei como cozinheira na cozinha da SBA. De passagem, descobri a arte de cozinhar, o que faço até hoje. Tudo começou com massas fermentadas.

 

Quando, num dia qualquer, cansei de cozinhar, quis procurar outro trabalho fora da SBA. Mas me disseram na época que na SBA havia trabalho suficiente a ser feito. Então fiquei e comecei a trabalhar com a limpeza. Varria, esfregava, limpava.

 

Naquele mesmo tempo comecei a cozinhar em grandes quantidades. Na época nós organizávamos todo mês um “Café Colonial”, como é de costume no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Eu assava 26 bolos e tortas a cada vez, sempre torta de maça e bolo floresta negra.

 

Para a festa junina deste ano[2] assei doze tortas de maçã, seis de morango e seis de nozes. Antes eu tinha uma cozinha extra. Desde a reforma cozinho na minha casa. Quando a quantidade é grande, termino de fazer os bolos aqui. Apenas termino de assá-los na cozinha. Os outros empregados também fazem encomendas sempre que precisam de um bolo. Tenho muito clientes fiéis.

 

Depois do trabalho na cozinha e na limpeza, também trabalhei na lavanderia. Faço isso até hoje. Eu limpo tudo na minha casa também. Trabalho também no meu jardim e varro o caminho na frente de casa.

 

Quando me aposentei oficialmente em 1998 pude ficar na SBA. Pra onde mais eu poderia ir? Não tenho mais ninguém. A SBA é a minha casa.

 

Eu ainda me lembro bem dos presidentes da SBA, do senhor Hellner[3], esse era um homem amável. Antigamente ele sempre ia com uma concha de feijão pra cozinha e ficava olhando o que tinha nas panelas. Eu gostava dele, todo sábado ele estava aqui.

 

Uma vez fizemos uma excursão para o sítio do senhor Endlein[4]. Também me lembro bem desse dia. Se tinha uma festa, o senhor Endlein sempre trazia os bancos.

 

E o senhor Pohlmann[5], ele era louco por minha torta de maçã, dona Angelika, sua mulher, também.

 

Eu sempre me senti muito bem aqui e tive muitos contatos. Também tinha o meu futuro marido, que vinha de Gdańsk. Nós fomos amigos durante muito tempo. Ele ficou quatorze anos aqui, mas conhecia a SBA há muito mais tempo, pois os amigos da sua mulher, que morreu mais tarde, moraram aqui.

 

Nós fazíamos muitas coisas juntos – com o maior respeito do mundo![6] – até que um dia à beira da praia ele disse: ‘Eu queria te perguntar uma coisa, mas você não precisa responder agora, você pode pensar primeiro: Você quer casar comigo?’. Eu fiquei surpresa, pois ele sempre dizia que não queria se casar de novo.  ‘Ah, Helga’, ele disse, ‘Para quem vou deixar os meus bens quando eu não for mais eu?’.

 

No dia 27 de maio de 2006, João Guillerme Anger e eu nos casamos no religioso na capela que fica no terreno da SBA. O padre, que João conhecia, veio extra de Santa Catarina.

 

Foi uma tempo maravilhoso com meu marido que faleceu em 23 de fevereiro de 2009, na idade de 89 anos. Mesmo durante o nosso casamento eu continuei trabalhando. Meu marido me visitava frequentemente no trabalho, ficava dez minutos e voltava a fazer suas coisas. Que bom que ainda tenho meu trabalho e o meu lar, a SBA.“ [7]

 


[1] A entrevista foi realizada em alemão, a palavra ”motorista” , entretanto, foi usada em português.

[2] Essa informação refere-se ao ano de 2013. (Nota da redação)

[3] Heinz Hellner: Presidente da SBA de 1959 a 1985, antes disso foi membro da presidência de 1954 a 1958. (Nota da redação)

[4] Wilhelm K. Endlein: Presidente da SBA de 1986 a 1991, antes disso foi membro da presidência de 1968 a 1985. (Nota da redação)

[5] Karlheinz Pohlmann: Presidente da SBA de 1992 a 1997, antes disso foi membro da presidência de 1980/81 a 1992. (Nota da redação)

[6] A entrevista foi realizada em alemão. A expressão com o maior respeito do mundo” foi uma das poucas em português.

[7] Entrevista realizada em 05.07.2013 (por Esther K. Beuth-Heyer)


© praticular: Luise, Gertraud, Arno, Gerhard e Karl Kirst (da esquerda para direita)


História da imigração da família Kirst

 

Karl Kirst nasceu em 13 de fevereiro de 1889 em Halle an der Saale. O carpinteiro profissional foi colocado na Primeira Guerra Mundial como marinheiro nos barcos torpedeiros e, finalmente, no SMS Munique, um navio de guerra chamado de pequeno cruzador.

 

Devido às condições catastróficas do pós-guerra, ele decidiu emigrar com sua mulher, uma costureira de profissão, e seus três filhos, Arno, Gerhard e Gertraud.

 

Em 4 de junho de 1924, a família, junto com um sobrinho, chegou em Santos com o Antônio Delfino, um navio da companhia de navegação Hamburg Süd. Karl Kirst tinha conseguido salvar 22.000 Rentenmark[1] em meio à inflação galopante. A família se mudou para o Bosque da Saúde/Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo, e lá começou a fazer a vida.

 

Como carpinteiro profissional, Kirst quis montar uma serraria e adquiriu 200 alqueires[2] de floresta virgem em Santo Anastácio, no interior do estado de São Paulo, que naquele tempo não era muito mais que uma das paradas da Estrada de Ferro Sorocabana. Sem conhecer a língua do país e não familiarizado com as circunstâncias, ele perdeu o patrimônio que trouxe consigo dentro de alguns meses.

 

Na Pianos Brasil acabou encontrando um emprego novo, porém mal pago. Sua esposa Luise fazia naquele tempo inúmeros vestidos de noiva que tinham enorme saída na vizinhança, de modo que o sustento da casa era assegurado pelos dois salários.

 

A situação econômica em São Paulo estava, de um modo geral, complicada naqueles anos, principalmente por causa da Revolta Paulista[3] e as consequências desta.

 

A situação da família só melhorou de verdade quando Karl Kirst conseguiu um emprego na renomada cervejaria Companhia Antarctica Paulista.[4],[5]

 

Arno Paul Kirst  (Halle/Saale, 17.06.1914 – São Paulo, 25.05.2004)

 

“Eu frequentei a escola Deutsche Schule zu Villa Marianna[6]. Depois de concluir a escola, entrei como aprendiz comercial na firma Theodor Wille & Co[7]. A fim de completar minha formação e com o objetivo de me tornar contador, fiz diversos cursos noturnos.

 

Em seguida, trabalhei muitos anos na Casa Allemã[8], na Rua Direta. Lá conheci o diretor da Tapetes Bandeirante[9], Domingos Aprile, o qual acompanhei como intérprete na Alemanha em 1936, a fim de ajudá-lo na compra de teares modernos os quais, por fim, adquirimos junto à Mertens & Frowein GmbH & Co. KG[10] em Neviges, em Wuppertal.

 

Enquanto Domingos Aprile pôde regressar ao Brasil, eu, por ser do ano de 1914, fui convocado para servir nas Forças Armadas. Durante um ano em Potsdam e mais outro em Hanôver recebi treinamento para me tornar radiotelegrafista.

 

No fim de 1938, quando estava de volta ao Brasil para as bodas de prata dos meus pais, recebi da Alemanha uma oferta de emprego muito boa. A Mertens & Frowein, a firma da qual havíamos comprado as máquinas, me ofereceu um posto e eu aceitei. Mal eu tinha assumido a função, a Segunda Guerra Mundial estourou.

 

Como reservista, fui recrutado já no segundo dia da mobilização. Fui para a companhia de radio de uma divisão da infantaria montada na campanha da França e, mais tarde, na Rússia, onde me tornei prisioneiro de guerra.

 

Eu consegui fugir. Por caminhos cheios de aventura alcancei Berlim, onde finalmente pude rever minha esposa Christine, com quem tinha me casado em 1942, e nossa filha pequena. Juntos, fugimos pela zona de ocupação inglesa para a Mertens & Frowein. Lá recebemos um quarto à nossa disposição.

 

Eu queria voltar para o Brasil junto com minha esposa e minha filha, pois naquele país eu havia passado uma grande parte da minha juventude, os meus pais viviam lá.

 

Mas a saída de alemães naquele momento não era possível sem enfrentar alguns obstáculos. Assim, eu recebi o chamado exit permit, a autorização para sair do país do governo da ocupação inglesa, somente depois que a Tapetes Bandeirante me deu apoio e solicitou um visto para mim e para minha família.

 

Em 1949 viajamos a bordo do navio belga “Copacabana” para Santos, onde fomos recebidos por meus pais e amigos chegados do tempo da juventude. Com a ajuda deles conseguimos, ainda no mesmo ano, fundar a torrefação “Café Santo Amaro”.

 

‘Meu irmão tinha um amigo, um brasileiro que se chamava Joaquim Leite, mas que vendia café. Ele comprava café nas fazendas e sugeriu ao meu irmão que abrissem juntos uma torrefação de café. Ele queria fornecer o café e meu irmão seria responsável pela torrefação e pela venda. Meu irmão torrava o café assim como se bebia na Alemanha. Café Santo Amaro era muito conhecido e extremamente popular. A especialidade do meu irmão era o Café Hamburgo que ele torrava mais claro para a clientela alemã. Ele vendia até mesmo no sul do Brasil.

 

A torrefação ia fantasticamente bem. Depois de algum tempo meu irmão pagou seu sócio e passou a tocar a torrefação como único proprietário. O grande sucesso econômico, por fim, deu a ele a possibilidade de reaver o terreno dos meus pais no Rio Bonito, ao lado da represa, que eles tinham vendido nos anos de 1930. Além disso, ele comprou apartamentos, um na Granja Julieta e um para a filha.’ [11]

 

Eu vendi o Café Santo Amaro no ano de 1971, depois que sofri um infarto do coração. A torrefação durou 22 anos.

 

A partir de então passei a viver mais recolhido e dediquei meu tempo, principalmente, ao Rotary Club São Paulo, ao qual pertenço desde 1954 e do qual fui presidente (1962/1963) e presidente de honra.

 

No ano de 2000 fui para o Lar Recanto Feliz da Sociedade Beneficente Alemã, onde minha esposa já vivia desde sofreu um grave AVC em 1996.“ [12]

 

 

 

Gertraud Ostermann (Nome de bastismo: Kirst)

Nascimento: Halle/Saale, 24.06.1921

Imigração para o Brasil: 1924 

 

“Quando meus irmãos foram para escola Deutsche Schule zu Villa Marianna, eu quis ir também. Mas eu ainda era muito pequena. Então fui matriculada aos cinco anos de idade em uma pequena escola brasileira nas proximidades.

 

Em 1930, disso eu ainda me lembro, fui com minha mãe para Alemanha, pois tínhamos algum dinheiro para receber da venda de um negócio do qual meu pai havia sido dono na Alemanha. Ficamos alguns meses na Alemanha, resolvemos o que tinha para resolver e visitamos minha avó.

 

Com o dinheiro que trouxemos meu pai mandou construir uma casa nova, maior, no terreno do Jabaquara, onde até então havia uma casinha pequena. Além disso, ele adquiriu um sítio perto da represa, em uma área que hoje pertence a Interlagos e onde atualmente encontra-se o restaurante Golden Interlagos.

 

Na época meu pai procurou um engenheiro agrônomo, pois ele queria estruturar o sítio seguindo o modelo da agricultura alemã. E foi assim que um jovem engenheiro agrônomo alemão, que frequentava o Kolpinghaus, trabalhou para nós e acabou nos visitando com frequência. Quando o trabalho estava pronto ele explicou que iria para Alemanha, mas que se casaria comigo depois de voltar para o Brasil. Eu não dei importância, pois eu tinha na época 15 ou 16 anos de idade.

 

Quando meu irmão, que nesse meio tempo estava na Alemanha, veio para o Brasil em 1938 por causa das bodas de prata dos meus pais, fizeram-lhe uma proposta de emprego na Alemanha que ele aceitou.

 

Eu também estava prestes a ir para Alemanha, pois queria frequentar o Seminário para Educadores Infantis em Hamburgo.

 

Como agora todos os filhos se encontravam na Alemanha, meus pais também prepararam seu retorno. Venderam o sítio, a casa no Jabaquara e também três imóveis que haviam adquirido nesse meio tempo e transferiram os recursos para Alemanha. As passagens também já estavam compradas. Contudo, o navio não pôde mais partir devido ao risco de guerra.

 

Felizmente meus pais receberam ajuda de amigos que eles conheciam do tempo em que moraram perto da represa. Estes emprestaram aos meus pais um pedaço de terra no qual ele abriram um pequeno restaurante alemão.

 

Antes que eu pudesse frequentar o Seminário para Educadores Infantis em Hamburgo, precisei prestar serviço civil por seis meses, pois minha viagem tinha sido financiada e eu tinha recebido uma bolsa para minha formação. Como eu gostava de trabalhar no campo, isso não me incomodou.

 

Então a guerra estourou. Eu não pude nem voltar para o Brasil nem começar com minha formação. Sendo assim, eu trabalhei primeiro como assistente de jardim de infância e, mais tarde, em meu próprio jardim de infância. Ninguém exigia documentos naquele tempo.

 

Meus pais se preocupavam muito conosco naquela época. De vez em quando, com intervalos de alguns meses, se podia escrever algumas linhas por intermédio da Cruz Vermelha, mas os tempos sem notícias eram difíceis pra eles e os deixavam de coração apertado.

 

Nesse meio tempo eu reencontrei o engenheiro agrônomo que tinha auxiliado meu pai na plantação do nosso sítio. E de fato nós ficamos noivos. Quando meu noivo, que na época estava na Polônia, me contou sobre um jardim de infância nas proximidades, me candidatei para uma vaga e de fato fui aceita. Ao mesmo tempo chegou uma carta dizendo que nesse meio tempo ele havia sido convocado para o fronte onde acabou morrendo. Nós nunca mais nos vimos.

 

Então eu fiquei sozinha na Polônia, em Zakopane[13] e trabalhei em uma casa de repouso para crianças. Fiquei lá um ano até que fui realocada em um orfanato em Varsóvia. De lá nós finalmente fugimos com as crianças para Alemanha, para Bitterfeld.

 

Eu mesma fui para as proximidades de Berlim. Meu irmão Arno, que havia se casado nesse meio tempo, me pediu que ficasse ao lado de sua mulher e da criança deles que, depois de terem sido bombardeadas em Essen, viviam com uma prima da minha cunhada em Rangsdorf.

 

Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance para ajudar minha cunhada e também cuidei da minha pequena sobrinha que na época tinha um ano e meio. Por fim, fiquei sabendo que um hospital especializado epidemias, que havia sido construído para tratar, sobretudo, doentes de tifoide, estava à procura de uma cozinheira especializada. Mesmo tendo trabalhado apenas com crianças, me candidatei como cozinheira especializada – e, de fato, fui aceita. Assim, pelo menos, eu podia levar do hospital as cascas de batata, as quais comíamos em casa.

 

Já nos últimos dias de guerra meu irmão Gerhard morreu em combate. Finalmente, uma missão militar dos Aliados foi estabelecida em Potsdam. Fui para lá e expliquei aos funcionários que tinha terminado os estudos na Escola Normal Padre Anchieta no Brasil e que meus pais viviam em São Paulo.

 

Imediatamente recebi a autorização para sair do país. No entanto, não saí da zona russa sem dificuldades. Acabei conseguindo fugir para Alemanha ocidental através de fronteira não vigiada. Fui para Essen onde ainda se encontrava uma parte da família da minha cunhada e lá, com a autorização para sair do país que eu já tinha, solicitei a ida para o Brasil. Porém, antes disso o visto de entrada precisava ser carimbado em Berlim pela missão militar. Quando eu me encontrava a caminho de Berlim, veio a reforma monetária[14] e eu precisei voltar. Por fim, enviei o passaporte para missão militar pelo correio e depois de um tempo recebi todos os documentos para sair do país.

 

Meus pais, que estavam tendo muito sucesso com o restaurante à beira da represa, arcaram com as passagens aéreas. Eu mesma pude, com a ajuda dos amigos e da família da minha cunhada, comprar as passagens de trem para Frankfurt.

 

Meus pais ficaram radiantes quando eu cheguei ao Brasil a salvo e eles finalmente, em agosto de 1948, puderam me tomar em seus braços novamente.

 

Depois do meu retorno passei a ajudar minha mãe no restaurante, o Tannenhaus. O pato assado de minha mãe era muito popular e atraía muitos alemães que viviam aqui. Também um senhor, que era de Wuppertal e trabalhava em São Paulo, ia com frequência ao nosso restaurante. Com o tempo fizemos amizade. Em 1949 nos casamos.

 

Meu marido recebeu algumas máquinas do pai dele que era dono de uma fábrica de máquinas em Wuppertal. Assim, ele montou uma fábrica de arames em Santo Amaro. De início, prédio e terreno eram alugados, até que finalmente compramos a propriedade.

 

Quando meu marido ficou doente, com Parkinson, cuidei dele e assumi a direção da firma, apesar de ser educadora infantil e não ter aprendido a comercializar arames. Mais tarde cheguei até mesmo a comprar mais máquinas e a ampliar a firma. Nós batalhamos muito – os funcionários e eu. Assim foi durante 22 anos, até que meu marido morreu em 1981.

 

Ao longo dos anos tive contato com um jovem que vendia isolações para arames. Quando, depois da morte do meu marido, lhe contei que queria dissolver a empresa, ele ficou muito interessado. Então transferi a firma para ele, a qual ele continuou dirigindo sob o mesmo nome, e fiquei feliz por ter sido poupada da morosa e burocraticamente trabalhosa dissolução da firma. A empresa durou ainda alguns anos, até que o novo dono a fechou. O prédio está alugado até hoje e mesmo agora, enquanto vivo no Lar Recanto Feliz, contribui para o meu sustento.

 

Durante muito tempo fui membro do Esporte Clube Banespa e nadava lá regularmente para relaxar. Um dia, no entanto, cai desastrosamente de costas no chão. Depois disso fui capaz de enfrentar o dia-a-dia, de uma forma ou de outra, mas as dores não pararam. Analgésicos me eram receitados constantemente. Mas eles não ajudavam, e foi assim que as coisas da vida cotidiana se tornaram, por fim, demais pra mim.

 

Então me veio em mente a SBA que eu conhecia muitíssimo bem: no lançamento da pedra fundamental do Lar Hellnereu já havia cantado lá com o coral Lyra[15], com o qual mantenho ligações até hoje. Também o meu irmão teve desde cedo um intenso contato com a SBA. Ele sempre doou café enquanto foi dono da torrefação. Se havia uma ocasião especial, ele logo se comprometia.

 

Em 1996 sua esposa, minha cunhada Christine, sofreu um grave AVC. Meu irmão e a irmã de Christine, que na época ainda morava na Granja Julieta, iam visitar minha cunhada com bastante frequência, até que meu irmão decidiu, em meados do ano 2000, se mudar também para o Lar Recanto Feliz.

 

Eu visitava o Lar Recanto Feliz com frequência e estava lá toda semana com o grupo de Skat do Lyra, ao qual eu também pertencia, já que aqui haviam alguns jogadores de Skat, meu irmão inclusive.

 

Meu irmão morreu pouco antes do seu 90º aniversário, no fim de maio de 2004, um ano antes da minha cunhada Christine. Sua irmã, Maria, que cuidou dela durante longos anos, também já vivia no Lar Recanto Feliz.

 

Quando minhas dores, que apareceram em consequência da queda, não melhoraram, também me inscrevi no Lar Recanto Feliz.

 

Durante o exame médico de entrada, que é um componente obrigatório do processo de admissão, falei sobre as minhas dores as quais os médicos que tinham me tratado até então simplesmente não tinham conseguindo resolver. Dr. Emerson, o médico responsável pela admissão, me receitou então remédios antiflamatórios que me ajudaram imediatamente. Até hoje sou grata a ele, pois finalmente estou livre das dores de novo.

 

Vivo há cinco meses no Lar Recanto Feliz. Há algumas semanas comemorei meu 90º aniversário. Para ser exata, comemorei esse aniversário várias vezes: uma vez com meus amigos alemães na Lyra, depois com meus amigos brasileiros e, finalmente, com meus ex-funcionários.

 

Sinto-me muito bem no Lar Recanto Feliz. Aqui encontro muitos amigos que conheço desde sempre e, sobretudo, minha cunhada, com quem estive ainda ontem na cafeteria. Felizmente eu ainda não engordei. A comida aqui é de fato boa e variada, assim como também a oferta de atividades recreativas. Frequento regularmente o treino de memória para manter a mente saudável e poder preservar por muito tempo a qualidade de vida que desfruto aqui.”[16]

 


[1] O banco alemão Rentenbank, fundado em meados de 1923, começou a emitir o Rentenmark como nova forma de pagamento em 15 de novembro de 1923. (http://www.dhm.de/lemo/html/weimar/innenpolitik/waehrungsreform/)

[2] Um Alqueire paulista equivalia a 2,43 héctares. (http://en.wikipedia.org/wiki/Alqueire)

[3]  Revolta Paulista de 1924, também chamada de Revolução Esquecida, Revolução do Isidoro, Revolução de 1924 ou Segundo 5 de julho: Tratou-se de um dos maiores conflitos armados da história de São Paulo. Veja também: Topoi, Volume 12, n. 23, Jul.-Dez. 2011, pp. 161-178

[4] Fonte: “Curriculum Vitae - Kurzfassung Arno Paulo Kirst”. In: Die Zeitung unseres Heims Lar Recanto Feliz. São Paulo, Ano 1, n. 35, 2º trimestre, 1º de abril de 2003

[5] Fichário Pessoal (Personenverzeichnis), Instituto Martius Staden, São Paulo – Karl Kirst

[6] A Deutschen Schule zu Villa Marianna (ortografia antiga – hoje: Vila Mariana) foi fundada em 6 de janeiro de 1901 por imigrantes alemães. Hoje a escola leva o nome de “Colégio Benjamin Constant”. (http://www.colegiobenjamin.com.br).

[7] Veja também: http://www.kaffeetraditionsverein.de

[8] Trata-se aqui da ortografia antiga (na verdade: Casa Alemã). A este respeito veja também: http://vejasp.abril.com.br/materia/a-casa-alema

[9] Fábrica de tapetes Bandeirante

[10] A fábrica de máquinas MERTENS & FROWEIN GMBH & CO KG foi fundada em 1901 e existe até hoje. (http://www.mertens-frowein.de)

[11] Entrevista realizada com Gertraut Ostermann (Nome de bastismo: Kirst) em 27.06.2013 (por Esther K. Beuth-Heyer)

[12] “Curriculum Vitae - Kurzfassung Arno Paulo Kirst”. In: Die Zeitung unseres Heims Lar Recanto Feliz, São Paulo, Ano 7, n. 35, 2º Trimestre, 1º de Abril de 2003

[13]  Zakopane encontra-se na voivodia da Pequena Polônia, na parte sul da Polônia, cerca de 90 kilomêtros ao sul da cidade de Cracóvia, em uma vasta bacia das montanhas Tratas, perto da fronteira com a Eslováquia.

[14] A reforma monetária entrou em vigor em 20 de junho de 1948 nas três zonas de ocupação ocidental da Alemanha, a partir de 21 de junho o Marco Alemão era a única moeda legal.

[15] Sociedade Filarmônia Lyra (fundada em 1884). Veja também: http://www.lyra.org.br

[16]  Entrevista realizada em 27.06.2013 (por Esther K. Beuth-Heyer)


Os irmãos Rosa, Hilde, Else, Johann e Hermann Schatz (primeira fila, da esquerda para direita)

Pai Franz, filha Emma e mãe Anna Schatz (fila de trás, da esquerda para direita)


Rosa Schatz Langer

Nascimento: Telfs (Tirol, Áustria), 16.08.1921


Imigração para o Brasil: 1934

Família: 11 irmãos


“Quando imigramos para o Brasil em 1934, meus irmãos e eu tínhamos entre quatro e 22 anos de idade. Eu era a sétima filha dos meus pais que eram donos de uma fazenda.


Meu pai, que sempre foi muito interessado em política, temia uma guerra na qual seus filhos seriam recrutados. Essa preocupação fez amadurecer a ideia de uma imigração.


Um anúncio em um jornal despertou a atenção do meu pai. Nele um senhor de Blumenau prometia seu apoio a quem desejasse imigrar. Por conseguinte, meu pai enviou em 1932 dois de seus filhos para o Brasil. Nas proximidades de Blumenau havia terra a ser vendida e meus irmãos deveriam adquiri-la e preparar a realocação de toda a família.


Em 1934, dois anos mais tarde, em um grupo de 60 pessoas liderado pelo ministro Andreas Thaler[1], finalmente nos pusemos a caminho de Treze Tílias no estado de Santa Catarina.


Viajamos no navio “Oceana” até o Rio de Janeiro, depois seguimos com um barco a vapor até o Rio Grande do Sul. Em seguida, viajamos mais dois dias de trem até que, finalmente, precisamos seguir viagem a pé. Caminhamos por muito tempo pela selva e ninguém conhecia o caminho.


Uma noite, de repente, apareceram homens a cavalo com chicotes. Ficamos com muito medo e tememos que tivessem a ver com índios. Mas eram nativos que não nos fizerem nenhum mal.


No dia seguinte, assim eu me lembro, nós, crianças (na época eu tinha treze anos), e os mais velhos seguimos, a uma distância de pelo menos 20 quilômetros, um carro de boi completamente carregado.


Em Treze Tílias fomos primeiro levados para um acampamento. Logo meu pai comprou, a um quilômetro de distância do centro, três colônias (30 alqueires[2]), alguns bois e porcos e um pônei para nós, crianças.


Tão grande foi a alegria pelo animal. A vida em Treze Tílias, em compensação era extremamente penosa, mais dura do que muitos haviam esperado. Até mesmo eu, apesar dos meus 13 anos, precisei trabalhar duro.


A saudade de casa era grande e minha mãe disse uma vez que, se houvesse uma ponte do Brasil para o Tirol, ela iria de joelhos para casa. Para consolo de minha mãe havia o meu irmão deficiente mental, com o qual ela tinha uma relação próxima. Minha mãe já tinha perdido um outro filho, pois um dos dois irmãos, que tinham vindo para o Brasil primeiro, por saudade de casa e desespero, ainda antes da nossa chegada, tinha tirado a própria vida. Para todos nós isso foi um grande golpe.


Quando eu tinha 16 anos fui, como muitas jovens moças na época, para São Paulo, a fim de trabalhar em casa de família.


Trabalhei em diferentes casas, tive o meu sustento e aprendi, paralelamente, a língua do país. No começo foi difícil pra mim com o português. Tanto que uma vez me pediram para trazer papel higiênico e eu trouxe, em vez disso, gelo.


Sempre que podia, eu visitava minha família, minha segunda casa, Treze Tílias. Para mim era sempre uma grande alegria ver quão bem os cerca de 800 colonos austríacos seguiam em frente e preservavam suas tradições culturais.


Eu estava muito contente com minhas atividades no trabalho doméstico, porém despertou-se em mim o desejo de me desenvolver mais e seguir uma profissão de futuro. Então me inscrevi como aprendiz de cabeleireira em um salão. Como fazia tudo com facilidade, depois de pouco tempo pude eu mesma atuar como cabeleireira, ganhando mais por isso. Esse passo adiante fez com que eu me sentisse rica e feliz. Pelo menos por um curto espaço de tempo, pois naqueles dias tranquilos eu soube que minha irmã Anna, aos 22 anos, tinha morrido de febre puerperal, pois em Treze Tílias não havia assistência médica.


O primeiro filho da minha irmã tinha naquele momento apenas um ano e meio de vida. Minha mãe cuidou da pequena criatura até os 14 anos de idade. Depois eu acolhi a criança em minha casa até o meu casamento.


Eu tinha em São Paulo duas irmãs mais novas Um irmão vivia em Rondônia, no nordeste do Brasil. Nesse meio tempo eu já tinha também muitos sobrinhos.


Com duas de minhas irmãs eu finalmente visitei o Tirol. Foi um grande acontecimento, pois em Telfs fomos saudadas pelo prefeito e encontramos todos os parentes, amigos e conhecidos novamente.


No ano de 1952, Franz Langer, um tcheco, veio para São Paulo. Eu o conheci lá em 1953. Pouco tempo depois, mais exatamente, três semanas depois, nós nos casamos. Por um curto período continuei trabalhando como cabeleireira. Franz era ferramenteiro.


Em 1955, finalmente decidimos montar uma pequena fábrica de metal. Nós fabricávamos copos graxeiros. Agora eu não tinha mais que fazer cachos, mas trabalhar metal. Não foi tão fácil, mas eu me saí muitíssimo bem. No começo o dinheiro era pouco. Depois de um tempo, porém, o negócio foi tão bem que em 1964 pudemos ir para Europa visitar a família do Franz, que eu não conhecia até então.


Filhos nós não tivemos. Um sobrinho, que era muito esforçado, nos ajudava na fábrica. Foi ele também quem assumiu o negócio quando meu marido e eu paramos em 1995.


Em todos esses anos pudemos manter uma vida estável. Em 1965 encontramos um belo pedaço de terra em Cotia, perto da cidade de São Paulo. Nesse grande terreno de 11.000 metros quadrados construímos para nós um pequeno paraíso. Com nossos dois pastores alemães e muitos amigos e parentes vivenciamos ali muitas horas felizes.


No entanto, nós nos tornamos mais velhos e mais doentes. Eu sofri um AVC e perdi com isso a visão de um olho. Na idade de 90 anos, Franz também teve um AVC e precisou passar um mês no hospital. Os problemas tornavam-se mais frequentes, apesar de termos um caseiro e pessoal de enfermagem.


No ano 2000 eu decidi ir com meu marido, que era dez anos mais velho que eu, para o Lar Recanto Feliz da SBA. No começo foi difícil para o meu marido, ele ficava muito nervoso, em certas ocasiões até maldoso e extremamente inquieto de noite. Depois de um tempo sua situação melhorou. Até sua morte em 2008, ele teve excelentes cuidadores que cuidaram dele com muita dedicação.


Eu, pessoalmente, aproveitei desde o começo as liberdades e possibilidades que me são oferecidas aqui. Todos os dias, desde manhã cedo até à noite, programas são oferecidos, desde cursos até excursões. Eu mesma me interesso por filmes e tenho uma coleção grande. Há mais de dez anos começamos a exibir esses filmes regularmente no auditório.


Agora, que tenho me tornado mais esquecida e às vezes não me arranjo mais muito bem sozinha, sinto-me muito segura aqui. Sobre minha cama, perto da porta e no banheiro encontra-se um sistema de alarme. Se eu o toco, um enfermeiro vem imediatamente, dia e noite. Além disso, há algum tempo tenho uma acompanhante que me ajuda diariamente das 8 h às 16 h. Aquele que pode viver aqui no Lar Recanto Feliz é uma pessoa bem-aventurada.” [3]



[1] Olhar quadro.

[2] Um alqueire paulista corresponde a 2,43 héctares. (http://en.wikipedia.org/wiki/Alqueire)

[3] Bases: Die Zeitung unseres Heims, Lar Recanto Feliz. São Paulo, Ano 07, n. 26, 1º de julho de 2003 (Entrevista realizada por Henrike Seuthe Puka) e entrevista realizada em 27.06.2013 (por Esther K. Beuth-Heyer)


Austríacos no Brasil – Treze Tílias

 

“Em 29 de março de 1933 foi fundada em Viena a Sociedade Austríaca para Assentamentos no Exterior com o objetivo de estabelecer no exterior assentamentos austríacos fechados.

 

Presidente e maior porta-voz daquela Sociedade foi o ex-ministro da agricultura, natural do Tirol, Andreas Thaler. Logo depois do estabelecimento da Sociedade ele se pôs a caminho da América do Sul a fim de reconhecer e adquirir terras adequadas. Sua viagem seguiu para o Chile, Paraguai, Argentina e Brasil.

 

Rapidamente Thaler acreditou ter encontrado no Paraguai o lugar ideal para os assentamentos, deixou-se, porém, dissuadir-se de seu plano com argumentos como a alta mortalidade infantil.

 

Em Cruzeiro do Sul, atual município de Joaçaba no estado [brasileiro] de Santa Catarina, o ex-cônsul alemão e mais tarde cônsul austríaco, Walter von Schuschnigg, o convenceu a adquirir uma área de cerca de 52 quilômetros quadrados ao norte da cidade. O governo austríaco antecipou o pagamento e assim a Sociedade para Assentamentos adquiriu sua primeira área além-mar a qual Thaler, segundo a obra de Friedrich Wilhelm Weber, chamou de “Dreizehnlinden”, Treze Tílias. [...]

 

[...] Provavelmente Thaler queria, com a comunidade de colonos em Treze Tílias, criar um refúgio para os seus compatriotas que haviam sido totalmente criados [...] no espírito da época. Antes, no entanto, que esse refúgio se tornasse a primeira colônia austríaca significativa no Brasil, Thaler teve que voltar para Áustria e – com a promessa de apoio dos governos brasileiro e austríaco – conquistar colonos.


Thaler, ele mesmo tirolês e familiarizado com as condições do país, não fez segredo quanto ao duro trabalho de construção que seria necessário na área de assentamento, trabalho este que especialmente os camponeses tiroleses conheciam pela vida que levavam. Estes foram ainda particularmente atingidos pela crise econômica mundial de 1929/30 e muitos estavam metidos em dívidas e dificuldades das quais não poderiam se recuperar tão facilmente na pequena Áustria como o poderiam em um país que não havia sofrido tanto quanto sua pátria os efeitos da Primeira Guerra Mundial.


Além disso, o Tirol era um estado rico em crianças, pelas regras de sucessão, no entanto, somente o filho mais velho de cada família recebia a fazenda e a terra como herança e o resto dos filhos, que haviam aprendido apenas a agricultura, saiam de mãos vazias.


Subsidiado por propagandas, Thaler conseguiu motivar mais e mais futuros colonos a se inscreverem e em 08 de setembro de 1933 os primeiros novos brasileiros da Áustria deixaram sua pátria e alcançaram o Rio de Janeiro em 18 de setembro de 1933[1].


Depois de outros 18 dias de esclarecimentos sobre as formalidades para entrada no país, eles se colocaram a caminho da nova área de assentamento. Para a grande surpresa dos imigrantes, encontrou-se lá uma pequena colônia de austríacos provenientes de Krems que já moravam na região desde 1930, mas que ainda não haviam feito grandes progressos.


Thaler percebeu que era importante fortalecer o sentimento de pertencimento e para isso criou mais estabelecimentos públicos [...] [e] realizava noites tirolesas em sua Tiroler Haus, a Casa de Tirol, a fim de promover esse efeito [...]. Três anos mais tarde ele relatou os progressos em cartas à velha pátria e pouco tempo depois chegaram outros transportes de expatriados no jovem assentamento. Apenas um ano depois, em 1937, deu-se a fundação das colônias-filhas, Babenberg e Dollfuß, esta última inspirada no chanceler austríaco.


No ano de 1939 (nesse meio tempo a Áustria havia “sido anexada” ao Reich alemão e a colônia submetida ao Consulado Geral Alemão em Joaçaba) o  fundador da colônia, Andreas Thaler, juntamente com outros colonos morreu em uma inundação.” [2]


“No ano de 1959 a Sociedade Austríaca para Colônias no Exterior, à qual desde 1933 estavam confiadas a administração e execução dos transportes, pôde ser dissolvida em Insbruque, depois de ter recebido do governo brasileiro uma quantia de 400 000 xelins como quitação.


Nos anos 40 Treze Tílias chamava-se ‘Papuan’, pois o processo de formação da nação e a política contra os ex-moradores das potências do Eixo resultou em numerosas mudanças dos nomes dos povoados de imigrantes. Em 1961 o restante dos títulos de propriedade foi atribuído em Treze Tílias.


Hoje, Treze Tílias é um município próspero com cerca de 5000 habitantes que devido às subvenções do governo tirolês, às migrações contínuas e temporárias entre o Tirol e a região e ao aumento da atratividade também pôde lucrar nos últimos anos como destino turístico exótico.”[3]


[1] A curta duração da travessia parece contestável.

[2] Citação de: http://www.suedamerika-fakten.de/brasilia-overview/49-geschichte-brasilien/102-dreizehnlinden-brasilien.html

[3] Citação de: http://www.lateinamerika-studien.at/content/geschichtepolitik/brasilien/brasilien-27.html